Dieta enteral: para que serve, tipos e como alimentar

Atualizado em setembro 2021

A dieta enteral, também conhecida como nutrição enteral, é um tipo de alimentação que permite administrar todos os nutrientes, ou parte deles, através do sistema digestivo quando a pessoa não pode consumir uma dieta normal, seja porque é necessário ingerir mais calorias, porque não é possível fazer alimentação por via oral, ou porque é necessário deixar o sistema digestivo de repouso.

Este tipo de nutrição é administrada através de um tubo, conhecido como sonda de alimentação, que normalmente é colocada desde o nariz, ou da boca, até ao estômago, ou até ao intestino. Seu comprimento e local onde é inserida varia de acordo com a doença de base, o estado geral de saúde da pessoa, a duração estimada e o objetivo que se pretende atingir.

Outra forma menos comum de administrar a dieta enteral é através de uma gastrostomia, na qual o tubo é colocado diretamente desde a pele até ao estômago, sendo indicado quando este tipo de alimentação precisa ser feita por mais de 4 semanas, como acontece em casos de pessoas com Alzheimer avançado. Entenda melhor o que é a gastrostomia e quando é indicada.

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Para que serve

A dieta enteral é usada quando é necessário administrar mais calorias e estas não conseguem ser supridas pela dieta habitual, ou quando alguma doença não permite o consumo das calorias por via oral. No entanto o intestino precisa estar funcionando corretamente.

Algumas situações onde a nutrição enteral pode ser administrada são:

  • Prematuros com menos de 24 semanas;
  • Síndrome de dificuldade respiratória;
  • Malformações do trato gastrointestinal;
  • Traumatismo na cabeça;
  • Síndrome do intestino curto;
  • Pancreatite aguda em fase de recuperação;
  • Diarreia crônica e doença inflamatória intestinal;
  • Queimaduras ou esofagite cáustica;
  • Síndrome da mal-absorção;
  • Desnutrição grave;
  • Transtornos alimentares, como anorexia nervosa.

Além disso, também se pode utilizar este tipo de nutrição como forma de transição entre a nutrição parenteral, que é colocada diretamente na veia, e a alimentação por via oral, de forma a adaptar gradualmente o sistema gástrico. Veja o que é a nutrição parenteral e quando é indicada.

Tipos de dieta enteral

Existem várias formas de administrar a diet enteral através da sonda:

Tipos de sonda O que é Vantagens Desvantagens
Nasogástrica É um tubo introduzido através do nariz até ao estômago. É a via mais utilizada por ser a mais fácil de colocar. Pode causar irritação nasal, do esôfago ou da traqueia; pode movimentar-se ao tossir ou vomitar e pode causar náuseas.
Orogástrica e oroentérica É colocada desde a boca até ao estômago ou intestino. Não obstrui o nariz, sendo a mais utilizada em recém-nascidos. Pode levar a aumento da produção de saliva.
Nasoentérica É uma sonda colocada desde o nariz até ao intestino, que pode ser colocada até ao duodeno ou jejuno. É mais fácil de movimentar; é melhor tolerada; diminui a possibilidade de que a sonda fique obstruída e provoca menos distensão gástrica. Diminui a ação dos sucos gástricos; apresenta risco de perfuração intestinal; limita a seleção das fórmulas e dos esquemas de alimentação.
Gastrostomia É um tubo que é colocado diretamente sobre a pele até ao estômago. Não obstrui a via aérea; permite o uso de sondas com maior diâmetro e é mais fácil de manipular. Precisa ser colocada por cirurgia; pode causar aumento do refluxo; pode provocar infecção e irritação da pele; apresenta risco de perfuração abdominal.
Duodenostomia e jejunostomia A sonda é colocada diretamente desde a pele até ao duodeno ou jejuno. Diminui o risco de aspiração dos sucos gástricos para o pulmão; permite uma alimentação no pós operatório de cirurgias gástricas. Mais difícil de colocar, necessitando de cirurgia; apresenta risco de obstrução ou ruptura da sonda; pode causar diarreia; precisa de uma bomba infusora.

Este tipo de alimentação pode ser administrada com uma seringa, sendo conhecida como bolus, ou através da força da gravidade ou de uma bomba infusora.

O ideal é que a alimentação enteral seja administrada pelo menos a intervalos de 3 - 4 horas, mas existem casos em que a alimentação pode ser feita de forma continua, com a ajuda de uma bomba de infusão. Este tipo de bombas imitam os movimentos intestinais, fazendo como que a alimentação seja melhor tolerada, especialmente quando a sonda está inserida no intestino.

Como alimentar uma pessoa com dieta enteral

A alimentação e a quantidade a administrar vai depender de alguns fatores, como a idade, o estado nutricional, as necessidades, a doença e a capacidade funcional do sistema digestivo. No entanto, o normal é que se inicie a alimentação com um volume baixo de 20 mL por hora, que vai aumentando gradualmente.

Os nutrientes podem ser dados através de uma dieta triturada ou através de fórmula enterais:

1. Dieta triturada

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Consiste na administração de alimentos triturados e coados, através da sonda. Neste caso, o nutricionista deve calcular com detalhe a dieta, assim como o volume de alimentos e o horário em que devem ser administrados. Nesta dieta é comum incluir vegetais, tubérculos, carnes magras e frutas.

O nutricionista pode ainda considerar fazer suplementação da dieta com uma fórmula enteral, para garantir um aporte suficiente de todos os nutrientes, prevenindo uma possível desnutrição.

Embora seja mais próxima da alimentação clássica, este tipo de nutrição tem maior risco de contaminação por bactérias, o que pode acabar limitando a absorção de alguns nutrientes. Além disso, por ser constituída por alimentos triturados, esta dieta também apresenta um risco maior de obstrução da sonda.

2. Fórmulas enterais

Existem várias fórmulas prontas que podem ser usadas para suprimir as necessidades de pessoas a fazer nutrição enteral, que incluem:

  • Poliméricas: são fórmulas que possuem todos nutrientes, incluindo proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais.
  • Semi elementares, oligoméricas ou semi-hidrolisadas: são fórmulas cujos nutrientes se encontram pré-digeridos, sendo mais fácies de absorver a nível intestinal;
  • Elementares ou hidrolisadas: possuem todos os nutrientes simples na sua composição, sendo muito fáceis de absorver a nível intestinal.
  • Modulares: são fórmulas que contêm apenas um macronutrientes como proteínas, carboidratos ou gorduras. Estas fórmulas são usadas especialmente para aumentar a quantidade de um macronutriente específico.

Além destas, existem ainda outras fórmulas especiais cuja composição é adaptada a algumas doenças crônicas como diabetes, problemas hepáticos ou alterações renais.

Possíveis complicações

Durante a dieta enteral podem surgir algumas complicações, desde problemas mecânicos, como obstrução da sonda, até infecções, como pneumonia de aspiração, ou ainda rutura gástrica, por exemplo.

Também podem surgir complicações metabólicas ou desidratação, déficit de vitaminas e minerais, aumento do açúcar no sangue ou desequilíbrio de eletrólitos. Além disso, também podem acontecer casos de diarreia, prisão de ventre, distensão abdominal, refluxo, náuseas ou vômitos.

No entanto, todas estas complicações podem ser evitadas se existir supervisão e orientação de um médico, assim como uma manipulação adequada da sonda e das fórmulas de alimentação.

Quando não deve ser usada

A dieta enteral está contraindicada para pacientes com elevado risco de broncoaspiração, ou seja, que o líquido da sonda possa entrar para os pulmões, o que é mais comum em pessoas que têm dificuldade para engolir ou que sofre com refluxo grave.

Além disso, também se deve evitar usar a nutrição enteral em pessoas que se encontrem descompensados ou instáveis, que possuam diarreia crônica, obstrução intestinal, vômitos frequentes, hemorragia gástrica, enterocolite necrosante, pancreatite aguda ou em casos em que existe uma atresia intestinal. Em todos estes casos, a melhor opção geralmente é o uso da nutrição parenteral. Veja no que consiste este tipo de nutrição.