A leucemia mieloide aguda, também conhecida como LMA, é um tipo de câncer que acomete as células sanguíneas e tem início na medula óssea, que é o órgão responsável pela produção das células do sangue. Esse tipo de câncer tem maiores chances de cura quando é diagnosticado no seu estágio inicial, quando ainda não há metástases e causa sintomas como perda de peso e inchaço das ínguas e da barriga, por exemplo.
A leucemia mieloide aguda prolifera-se muito rápido e pode acontecer em pessoas de todas as idades, no entanto é mais frequente em adultos, pois as células cancerígenas se acumulam na medula óssea e são liberadas na corrente sanguínea, por onde são enviadas para outros órgãos, como fígado, baço ou sistema nervoso central, onde continuam crescendo e se desenvolvendo.
O tratamento da leucemia mieloide aguda pode ser feito no hospital do câncer e é muito intenso nos 2 primeiros meses, sendo preciso ainda, pelo menos mais 1 ano de tratamento para que a doença seja curada.

Principais sintomas
Os sintomas da LMA surgem devido à diminuição da quantidade de células vermelhas, brancas e plaquetas circulantes, o que acontece devido à alteração no funcionamento da medula óssea, que produz e libera células imaturas para a circulação. Assim, os principais sintomas de leucemia mieloide aguda incluem:
- Anemia, que é caracterizada pela diminuição da quantidade de hemoglobina;
- Sensação de fraqueza e mal-estar geral;
- Palidez e dor de cabeça que são causados pela anemia;
- Hemorragias frequentes caracterizadas pelo sangramento nasal fácil e aumento da menstruação;
- Ocorrência de grandes hematomas mesmo em pequenas pancadas;
- Perda do apetite e emagrecimento sem causa aparente;
- Ínguas inchadas e doloridas, principalmente no pescoço e virilhas;
- Infecções frequentes;
- Dor nos ossos e articulações;
- Febre;
- Falta de ar e tosse;
- Suor noturno exagerado, que chega a molhar a roupa;
- Desconforto abdominal causado pelo inchaço do fígado e do baço.
A leucemia mieloide aguda é um tipo de câncer sanguíneo que acontece mais frequentemente em adultos e é importante que o médico seja consultado assim que surgirem os primeiros sinais e sintomas de leucemia, pois assim é possível fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento mais adequado, havendo maiores chances de cura.
Causas de leucemia mieloide aguda
A leucemia mieloide aguda acontece devido a uma alteração no funcionamento da medula óssea, que se torna incapaz de tornar as células produzidas maduras. Essa alteração no funcionamento é devido a mutações que podem acontecer, que podem ser translocações, inversões, deleções ou adições nos cromossomos. Os genes mais frequentemente envolvidos nas mutações e relacionados com o desenvolvimento da LMA são FLT-3, NPM1, IDH e PML-RARA, sendo importante identificar a mutação e o gene envolvido para que se possa identificar o tipo de leucemia e, assim, ser estabelecido o prognóstico e o melhor tratamento.
As mutações relacionadas com a LMA podem acontecer ao longo da vida, não sendo consideradas hereditárias. A ocorrência dessas mutações podem ser favorecidas por alguns fatores como idade, exposição frequente a produtos químicos, tabagismo, realização de quimioterapia, alterações do sangue, doenças genéticas e exposição a altos níveis de radiação. Além disso, apesar de não ser hereditário, a presença de um caso de LMA na família pode representar risco aumentado de desenvolvimento de mutações.
Diagnóstico e classificação
O diagnóstico da leucemia mieloide aguda é baseada nos sintomas apresentados pela pessoa e no resultado de exames, como hemograma, análise da medula óssea, citogenética e exames moleculares e imuno-histoquímicos. Por meio do hemograma, é possível observar a diminuição da quantidade de glóbulos brancos, presença de glóbulos brancos imaturos circulantes e menor quantidade de glóbulos vermelhos e plaquetas. Para confirmar o diagnóstico é importante que seja realizado o mielograma, que é feito a partir da punção e coleta de uma amostra da medula óssea, que é analisada em laboratório. Entenda como é feito o mielograma.
Para identificar o tipo de leucemia mieloide aguda, é importante que sejam feitos exames moleculares e imuno-histoquímicos para identificar características das células encontradas no sangue que sejam características da doença, sendo essa informação importante para determinar o prognóstico da doença e para que o médico indique o tratamento mais adequado.
A partir do momento em que é identificado o tipo da LMA, o médico pode determinar o prognóstico e estabelecer as chances de cura. A LMA pode ser classificada em alguns subtipos de acordo com a alteração genética e, consequentemente, prognóstico, sendo eles:
Como é feito o tratamento
O tratamento para leucemia mieloide aguda (LMA) precisa ser indicado por um oncologista ou hematologista e pode ser realizado através de várias técnicas, como quimioterapia, medicamentos ou transplante de medula óssea:
1. Quimioterapia
O tratamento para leucemia mieloide aguda começa com um tipo de quimioterapia chamada indução, que tem como objetivo a remissão do câncer, isto significa diminuir as células doentes até que não sejam detectadas nos exames de sangue ou no mielograma.
Este tipo de tratamento é indicado pelo hematologista, é feito em um ambulatório de um hospital e é realizado através da aplicação de medicamentos diretamente na veia, por meio de um cateter colocado do lado direito do tórax chamado de port-a-cath ou por um acesso em uma veia do braço.
Na maioria dos casos de leucemia mieloide aguda, o médico recomenda que a pessoa receba um conjunto de vários medicamentos, chamados de protocolos, que baseiam-se principalmente no uso de remédios como a citarabina e a idarrubicina, por exemplo. Esses protocolos são feitos em fases, com dias de tratamento intenso e alguns dias de descanso, que permitem o corpo da pessoa se recuperar, e a quantidade de vezes a ser feita depende do gravidade da LMA.
Alguns dos medicamentos mais comuns para tratar este tipo de leucemia, podem ser:
O médico pode ainda indicar o uso de corticosteroides, como a prednisona ou dexametasona, como parte do protocolo de tratamento para a leucemia mieloide aguda. Algumas pesquisas estão sendo desenvolvidas para que novos medicamentos como a capecitabina, lomustina e guadecitabina sejam também utilizados para tratamento desta doença.
Além disso, depois da remissão da doença com a quimioterapia, o médico pode indicar novos tipos de tratamento, chamados de consolidação, que serve para garantir que as células cancerosas foram todas eliminadas do corpo. Esta consolidação pode ser feita por meio de quimioterapia de altas doses e transplante de medula óssea.
O tratamento para leucemia mieloide aguda com quimioterapia reduz a quantidade de glóbulos brancos no sangue, que são as células de defesa do corpo, e a pessoa fica com a imunidade baixa, ficando mais suscetível a ter infecções. Por isso, em alguns casos, a pessoa precisa ficar internada em um hospital durante o tratamento e precisa utilizar antibióticos, antivirais e antifúngicos para evitar que surjam infecções. E ainda, é comum surgirem outros sintomas, como queda de cabelo, inchaço do corpo e pele com manchas. Conheça outros efeitos colaterais da quimioterapia.
2. Radioterapia
A radioterapia é um tipo de tratamento que utiliza uma máquina que emite a radiação no corpo para matar células cancerosas, no entanto, este tratamento não é muito utilizado para leucemia mieloide aguda e somente é aplicado nos casos em que a doença se espalhou para outros órgãos, como o cérebro e testículo, para ser usada antes do transplante de medula ou para aliviar a dor em uma área óssea invadida pela leucemia.
Antes de iniciar as sessões de radioterapia, o médico faz um planejamento, verificando imagens da tomografia computadorizada para que seja definida a localização exata em que a radiação deve ser atingida no corpo e em seguida, são feitas marcações na pele, com uma caneta específica, para indicar o posicionamento certo na máquina de radioterapia e para que assim, todas as sessões sejam sempre no local marcado.
Assim como a quimioterapia, esse tipo de tratamento também pode resultar em efeitos colaterais, como cansaço, perda de apetite, náuseas, dor de garganta e alterações na pele parecidas com queimaduras solares. Saiba mais sobre os cuidados que se deve ter durante a radioterapia.
3. Transplante de medula óssea
O transplante de medula óssea é um tipo de transfusão de sangue feita a partir de células tronco hematopoieticas retiradas diretamente da medula de um doador compatível, seja por uma cirurgia de aspiração de sangue do quadril ou através de aférese, que é uma máquina que separa as células tronco do sangue por meio de um cateter na veia.
Geralmente, este tipo de transplante é feito após a realização de altas doses de medicamentos da quimioterapia ou radioterapia e somente depois das células cancerosas não serem detectadas nos exames. Existem vários tipos de transplante, como o autólogo e o alogênico, sendo que a indicação é feita pelo hematologista de acordo com as características da leucemia mieloide aguda da pessoa. Veja mais como é feito o transplante de medula óssea e os diferentes tipos.
4. Terapia alvo e imunoterapia
A terapia alvo é o tipo de tratamento em que se utiliza medicamentos que atacam as células doentes pela leucemia com alterações genéticas específicas, provocando menos efeitos colaterais do que a quimioterapia. Alguns destes medicamentos utilizados são:
- Inibidores de FLT3: indicados para pessoas com leucemia mieloide aguda com mutação no gene FLT3 e alguns destes medicamentos são a midostaurina e o gilteritinib, ainda não aprovado para uso no Brasil;
- Inibidores de IDH: recomendados pelo médico para uso em pessoas com leucemia com mutação nos genes IDH1 ou IDH2, que impedem o amadurecimento adequado das células do sangue. Os inibidores da IDH, como o o enasidenib e o ivosidenib, podem ajudar as células da leucemia a amadurecerem para as células sanguíneas normais.
Além disso, outros medicamentos que agem em genes específicos também já estão sendo utilizados como os inibidores do gene BCL-2, como o venetoclax, por exemplo. Entretanto, outros remédios modernos baseados em ajudar o sistema imunológico a combater as células da leucemia, conhecidos como imunoterapia, também são bastante indicados pelos hematologistas.
Os anticorpos monoclonais são medicamentos da imunoterapia criados como proteínas do sistema imunológico que agem se fixando na parede das células da LMA e depois destruindo-as. O medicamento gemtuzumabe é este tipo de medicamento muito recomendado pelos médicos para tratar este tipo de leucemia.
5. Terapia genética de Car T-Cell
A terapia genética feita pela técnica de Car T-Cell é uma opção de tratamento para pessoas com leucemia mieloide aguda que consiste em remover células do sistema imune, conhecidas como células T, do corpo de uma pessoa e em seguida enviar para o laboratório. No laboratório, essas células são modificadas e são introduzidas substâncias chamadas CARs para que sejam capazes de atacar as células cancerosas.
Depois de tratadas em laboratório, as células T são recolocadas na pessoa com leucemia para que, modificadas, destruam as células doentes pelo câncer. Este tipo de tratamento ainda está sendo estudado e não está disponível pelo SUS. Confira mais como é feita a terapia por Car T-Cell e o que pode ser tratado.
Veja ainda um vídeo de como aliviar os efeitos do tratamento do câncer: