Crises do bebê: 3, 6, 8 e 12 meses

Pediatra e Pneumologista infantil
maio 2021

O primeiro ano de vida de uma criança é repleto de fases e desafios. Durante esse período, o bebê tende a passar por 4 crises de desenvolvimento: aos 3, 6, 8 e ao completar 12 meses.

Essas crises fazem parte do desenvolvimento normal da criança e estão relacionadas com alguns "saltos mentais", ou seja, momentos em que a mente do bebê desenvolve rapidamente, sendo marcadas por algumas mudanças de comportamento. Geralmente, nessas crises os bebês ficam mais difíceis, choram mais, se irritam mais fácil e ficam mais carentes.

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Entenda as crises do bebê durante o primeiro ano de vida e o que se pode fazer em cada uma delas. É importante lembrar que cada família tem sua estrutura, características e possibilidades e, por isso, deve adequar-se de acordo com elas.

Crise dos 3 meses

Essa crise acontece porque até esse momento, para o bebê, ele e a mãe são uma única pessoa, como se fosse uma gestação fora do útero. Essa fase pode ser descrita ainda como um segundo nascimento, sendo que o primeiro, biológico, foi no dia do parto e com a chegada dos 3 meses acontece o nascimento psicológico. Nessa etapa o bebê começa a interagir mais, a olhar nos olhos, imitar gestos, brincar e reclamar. 

A crise dos 3 meses acontece justamente porque a criança tem a percepção de que não está mais presa na mãe, entende que não faz parte dela, a vê como um outro ser e precisa chamá-la para ter o que necessita, podendo gerar ansiedade no bebê, podendo ser percebida por mais momentos de choro. Essa crise dura, em média, 15 dias e tem alguns sinais marcantes como:

  • Mudança nas mamadas: é comum a mãe sentir que o bebê não quer mais mamar e que seu seio já não é tão cheio como antes. Mas, o que acontece é que o bebê já consegue sugar melhor o peito e esvaziá-lo com mais rapidez, reduzindo o tempo das mamadas para 3 à 5 minutos. Além disso, o peito já não deixa mais tanto leite em estoque, produzindo no momento e de acordo com a demanda. Nessa fase, muitas mães iniciam a suplementação por achar que não estão oferecendo leite suficiente para a criança, o que leva a falta de estímulo e assim ao desmame precoce.
  • Mudanças no comportamento e no sono: o bebê nessa fase tende a acordar mais vezes durante a noite, fato que muitas mães associam à mudança nas mamadas e entendem que é fome. Logo, quando a criança chora a mãe lhe oferece o peito, quando tenta largar a criança chora e os dois ficam num vai e vem, isso acontece porque o bebê mama mesmo sem fome, pois se sente seguro junto da mãe, como quando entendia que os dois eram um só.

Como esse é o momento em que o bebê começa a descobrir o mundo, fica mais ativo e sua visão melhora, tudo é novidade e motivo de agitação e ele já entende que ao chorar terá suas necessidades atendidas, gerando ansiedade e as vezes irritabilidade. 

O que fazer

Considerando que é uma fase de ajustes completamente normal do desenvolvimento e muito importante para o crescimento, os pais devem tentar ficar calmos e manter um ambiente tranquilo para a ajudar o bebê a passar por isso, já que em alguns dias a rotina voltará ao normal. Não se deve medicar a criança nessa fase.

É orientado que a mãe insista em amamentar pois seu corpo é capaz de produzir a quantidade necessária de leite que a criança precisa. Logo, se a pega do bebê está correta e os seios não doem nem apresentam fissuras, não há indicativos de que o bebê está a mamar mal e, dessa forma, não se deve parar a amamentação. Um ponto a ser observado é que nessa fase a criança se distrai mais facilmente, logo, buscar amamentar em lugares tranquilos pode ajudar.

Outros métodos que podem auxiliar durante essa crise incluem dar muito colo ao bebê e aplicar o método canguru, contar histórias mostrando desenhos coloridos em livros, entre outras ações que demonstrem contato e atenção. Veja aqui o que é o método Canguru e como fazer.

Crise dos 6 meses

Entre os 5 e 6 meses da criança acontece a formação do triângulo familiar e é nesse momento que a criança percebe que existe uma figura paterna. Por mais que o pai seja ativo desde o nascimento, a relação do bebê não tem o mesmo significado que tem com a mãe, sendo que só por volta dos seis meses esse reconhecimento acontece e, então, começa a crise. 

Os sinais de crise são choro excessivo, alterações no sono e no humor, a criança não tem muito apetite e pode ficar mais carente e irritada. Para confundir um pouco, o início do nascimento dos dentinhos muitas vezes acontece nesse período e as duas fases podem se confundir, já que a dentição também causa incômodo e a criança pode ficar mais agitada e irritada, além de poder causar diarreia e até febre. Veja os sintomas do nascimento dos primeiros dentinhos.

A crise dos 6 meses também acontece para a mãe e muitas vezes afeta mais ela do que a própria criança, a qual deve lidar com a entrada do pai na relação e, muitas vezes, é nesse período que muitas mulheres voltam a trabalhar, intensificando a crise. 

O que fazer

Esse é o momento da mãe dar espaço e do pai se fazer presente na vida da criança, além de apoiar e ajudar a mãe. A mãe deve se policiar para não sentir culpa ou ciúmes, já que necessita aumentar a rede de contatos do bebê. Ainda, segundo alguns especialistas, a adaptação do bebê à creche fica mais fácil se feita antes dos 8 meses, já que nesse período ainda não sente tanto a ausência dos pais. Confira mais sobre o desenvolvimento do bebê de 6 meses.

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Crise dos 8 meses

Em algumas crianças essa crise pode acontecer já no 6º mês ou para outras no 9º, mas geralmente acontece no 8º mês e é considerada a crise da separação, angústia ou medo de estranhos, onde a personalidade do bebê pode mudar muito. 

Essa crise é a que dura mais tempo, cerca de 3 a 4 semanas e acontece porque o bebê passa a ser separado da mãe mais vezes e, na cabeça dele, entende que ela não vai voltar, levando a sensação de abandono. Há uma forte quebra do padrão de sono nessa crise, a criança acorda a noite toda e desperta assustada e com choro intenso. Os outros sinais incluem agitação e perda da vontade de se alimentar, sendo mais intensos do que nas outras crises. Entretanto, como essa fase depende da personalidade de cada criança, também é comum que alguns bebês passem pela crise de forma tranquila.

O que fazer

Muitos casais levam o filho para dormir na mesma cama com eles, mas essa prática não é o ideal porque os pais não dormem tranquilamente por medo de machucar a criança. Quando a criança tem crise de choro à noite é preferível que seja a mãe a acalmar a criança, porque quando a mãe sai, a criança tem o pensamento de que ela não voltará mais. Isso ajuda ela a entender que a presença da mãe pode ser seguida de ausências.

Além disso, nessa fase a criança pode se apegar a um objeto definido por ela própria, o que é importante pois representa a figura da mãe e ajuda-a a perceber que, como o objeto não desaparece, a mãe, mesmo que se ausente, não desaparecerá. Ainda, outra dica é que mãe sempre abrace o objeto e depois o deixe com a criança, para que ela sinta o cheiro da mãe e não se sinta desamparada.

Como nas outras fases, é importante dar carinho e atenção à criança para tranquilizá-la de sua angustia, além de sempre se despedir do bebê para deixar mais claro que voltará e ele não ficará abandonado. Um bom exemplo de brincadeira nessa fase é o esconde-esconde.

Crise dos 12 meses

Essa é a fase onde a criança começa a dar os primeiros passos e, por isso, tem vontade de descobrir o mundo e ser mais independente. No entanto, ela continua sendo dependente e precisando muito dos pais. A crise acontece justamente por isso.

Os principais sinais dessa crise são irritação e choro, especialmente quando a criança quer alcançar um objeto ou se deslocar para algum lugar e não consegue. É também comum que o bebê não queira comer e não consiga dormir direito.

O que fazer

Quanto ao início do processo de caminhar, os pais devem estimular a criança a se movimentar, amparar, acompanhar e dar apoio, mas nunca forçar, já que a criança começará a caminhar quando achar que pode e quando o cérebro e as perninhas colaborarem. Mesmo assim, as vezes a criança quer e não consegue, o que a deixa angustiada. É aconselhado que o ambiente seja saudável, acolhedor e tranquilo, e mesmo que essa fase possa ser um pouco difícil, é marcante e muito significativa.

Além disso, quanto mais suporte e proteção a criança receber nessa fase de separação, melhor ela tende a lidar com ela.

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Escrito, atualizado e revisto clinicamente por Dr.ª Sani Santos Ribeiro - Pediatra e Pneumologista infantil, em maio de 2021.
Revisão médica:
Dr.ª Sani Santos Ribeiro
Pediatra e Pneumologista infantil
Médica formada pela Universidade Federal do Rio Grande com CRM nº 28364 e especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria.