Hemofilia: o que é, sintomas, tipos e tratamento

Atualizado em fevereiro 2023

A hemofilia é uma doença genética e hereditária caracterizada por sangramentos prolongados devido à deficiência ou diminuição da atividade dos fatores VIII e IX no sangue, que são essenciais para a coagulação.

Assim, quando existem alterações relacionadas com essas enzimas, é possível que existam sangramentos, que podem ser internos, com hemorragias na gengiva, no nariz, na urina ou nas fezes, ou hematomas pelo corpo, por exemplo. 

Apesar de não ter cura, a hemofilia tem tratamento, que é feito com com injeções periódicas com o fator de coagulação que falta no organismo, para prevenir sangramentos ou sempre que houver uma hemorragia, que precisa ser resolvida rapidamente.

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Sintomas de hemofilia

Os principais sintomas de hemofilia são:

  • Aparecimento de manchas roxas na pele;
  • Inchaço e dor nas articulações;
  • Sangramentos espontâneos, sem razão aparente, como na gengiva ou nariz, por exemplo;
  • Sangramento durante o nascimento dos primeiros dentes;
  • Hemorragias difíceis de parar após um simples corte ou cirurgia;
  • Ferimentos que demoram muito tempo para cicatrizar;
  • Menstruação excessiva e prolongada.

Os sintomas de hemofilia podem ser identificados nos primeiros anos de vida do bebê, no entanto podem surgir durante a puberdade, adolescência ou na vida adulta, principalmente nos casos em que a hemofilia está relacionada com a diminuição da atividade dos fatores de coagulação.

Quanto mais grave o tipo de hemofilia, maior é o número de sintomas e mais cedo podem surgir. Por isso, a hemofilia grave costuma ser descoberta já no bebê, durante os primeiros meses de vida, enquanto que a hemofilia moderada costuma ser suspeitada por volta dos 5 anos de idade, ou quando a criança começa a andar e brincar.

Por outro lado, a hemofilia leve pode ser descoberta somente na vida adulta, quando a pessoa sofre uma pancada forte ou após procedimentos como extração dentária, em que se nota um sangramento acima do normal.

Tipos de hemofilia

A hemofilia pode acontecer de 2 formas, que, apesar de apresentarem sintomas semelhantes, são provocadas por falta de diferentes componentes do sangue:

  • Hemofilia A: é o tipo mais comum de hemofilia, sendo caracterizada pela deficiência no fator VIII da coagulação;
  • Hemofilia B: provoca alterações na produção do fator IX da coagulação, sendo também conhecida como doença de Christmas.

Os fatores de coagulação são proteínas presentes no sangue, que são ativados sempre que ocorre o rompimento do vaso sanguíneo, para que o sangramento seja contido. Por isso, as pessoas com hemofilia sofrem de sangramentos que demoram muito mais tempo para serem controlados.

Existem deficiências de outros fatores de coagulação, que também causam sangramentos e podem confundir com a hemofilia, como a deficiência do fator XI, popularmente conhecida como hemofilia tipo C, mas que difere no tipo de alteração genética e forma de transmissão.

Como confirmar o diagnóstico

O diagnóstico da hemofilia é feito após avaliação do médico hematologista, que solicita exames que avaliam a capacidade de coagulação do sangue, como o tempo de coagulação, que checa o tempo que o sangue leva para formar um coágulo, e a dosagem da presença dos fatores de coagulação e seus níveis no sangue.

O fatores de coagulação são proteínas essenciais do sangue, que entram em ação quando há algum sangramento, para permitir que ele pare. A ausência de algum desses fatores causa doenças, como acontece na hemofilia tipo A, que é provocada pela ausência ou diminuição do fator VIII, ou hemofilia tipo B, em que o fator IX está deficiente. Entenda como funciona a coagulação.

Tratamento para hemofilia

Apesar de não ter cura, o tratamento da hemofilia ajuda a evitar os sangramentos frequentes, sendo importante que seja orientado pelo hematologista, podendo ser realizado de duas formas diferentes:

  • Tratamento de prevenção: consiste na reposição periódica dos fatores de coagulação, para que estejam sempre com níveis aumentados no organismo e impeçam um possível sangramento. Este tipo de tratamento pode não ser necessário em casos de hemofilia leve, podendo ser recomendado fazer o tratamento apenas quando há algum tipo de hemorragia.
  • Tratamento após sangramento: é o tratamento sob demanda, feito em todos os casos, com a aplicação do concentrado de fator de coagulação quando há um episódio de hemorragia, o que permite que ela seja resolvida mais rapidamente.

Em qualquer um dos tratamentos, as doses devem ser calculadas de acordo com o peso corporal, a gravidade da hemofilia e com os níveis de atividade de fator de coagulação que cada pessoa tem no sangue. Os concentrados de fator VIII ou IX consistem em uma ampola com pó que é diluído em água destilada para a aplicação.

Além disso, outros tipos de concentrados de agentes hemostáticos podem ser utilizados para auxiliar na coagulação, como crioprecipitado, complexo protrombínico e desmopressina, por exemplo. Estes tratamentos são feitos gratuitamente pelo SUS, nos centros de hematologia do estado, bastando ser encaminhado pelo clínico geral ou hematologista.

Tratamento nos casos de hemofilia com inibidor

Alguns hemofílicos podem desenvolver anticorpos contra o concentrado de fator VIII ou IX usados para o tratamento, chamados de inibidores, o que pode prejudicar a resposta do tratamento.

Nestes casos, pode ser necessária a realização de um tratamento com doses maiores, ou com a associação de outros componentes coagulantes do sangue.

Cuidados durante o tratamento

É importante que a pessoa tenha alguns cuidados durante o tratamento, como:

  • Praticar atividades físicas, para fortalecer os músculos e articulações, reduzindo as chances de sangramento. No entanto, é importante evitar esportes de impacto ou contato físico violento;
  • Observar o surgimento de novos sintomas, principalmente nas crianças, e se diminuem com o tratamento;
  • Ter a medicação sempre próxima, principalmente em caso de viagem;
  • Ter uma identificação, como uma pulseira, indicando a doença, para casos de emergência;
  • Informar a condição sempre que fizer algum procedimento, como aplicação de vacina, cirurgia dentária ou procedimentos médicos;
  • Evitar medicamentos que facilitam o sangramento, como aspirina, anti-inflamatórios e anticoagulantes, por exemplo.

Além disso, a fisioterapia também deve fazer parte do tratamento da hemofilia, pois promove melhora da função motora, diminuindo o risco de complicações, como a sinovite hemolítica aguda, que é uma inflamação da articulação devido ao sangramento, e melhora a tonicidade muscular, e por isso pode, até, diminuir a necessidade da toma de fatores de coagulação sanguínea e melhorar a qualidade de vida. 

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Dúvidas comuns sobre a hemofilia

Algumas dúvidas comuns sobre a hemofilia são:

1. A hemofilia é mais comum em homens?

Os fatores de coagulação deficientes na hemofilia estão presentes no cromossomo X, que é único no homem e duplicado na mulher. Assim, para ter a doença, o homem apenas precisa receber 1 cromossomo X afetado, da mãe, enquanto que para uma mulher desenvolver a doença, precisa receber os 2 cromossomos afetados, e, por isso, a doença é mais comum nos homens.

Se a mulher tem apenas 1 cromossomo X afetado, herdado de algum dos pais, ela será portadora, mas não irá desenvolver a doença, pois o outro cromossomo X compensa a deficiência, no entanto, tem 25% de chances de ter um filho com esta doença. 

2. A hemofilia é sempre hereditária?

Em cerca de 30% dos casos de hemofilia não há antecedentes familiares da doença, o que pode ser resultado de uma mutação genética espontânea no DNA da pessoa. Neste caso, é considerado que a pessoa tem uma hemofilia adquirida, mas que, ainda assim, poderá transmitir a doença para os filhos, assim como qualquer outra pessoa com hemofilia.

3. A hemofilia é contagiosa?

A hemofilia não é contagiosa, mesmo que haja o contato direto com o sangue de uma pessoa portadora ou, até, uma transfusão, já que isto não interfere com a formação do sangue de cada pessoa pela medula óssea. 

4. A pessoa com hemofilia pode ter uma vida normal?

Ao fazer o tratamento preventivo, com a reposição dos fatores de coagulação, a pessoa com hemofilia pode ter uma vida normal, inclusive praticando esportes. 

Além do tratamento para prevenção de acidentes, pode ser feito o tratamento quando existe um sangramento, através da injeção dos fatores de coagulação, que facilita a coagulação do sangue e impede uma hemorragia grave, sendo feito de acordo com a orientação do hematologista.

Além disso, sempre que a pessoa for fazer algum tipo de procedimento cirúrgico, incluindo as extrações dentárias e as obturações, por exemplo, é necessário fazer doses para prevenção.

5. Quem tem hemofilia pode tomar ibuprofeno?

Medicamentos como Ibuprofeno ou que possuam em sua composição ácido acetilsalicílico não devem ser ingeridos por pessoas diagnosticadas com hemofilia, pois esses medicamentos podem interferir no processo de coagulação do sangue e favorecer a ocorrência de sangramentos, mesmo que tenha havido aplicação do fator de coagulação.

6. A pessoa com hemofilia pode fazer tatuagens ou cirurgias?

A pessoa diagnosticada com hemofilia, independente do tipo e da gravidade, poderá fazer tatuagens ou procedimentos cirúrgicos, no entanto a recomendação é que comunique sua condição ao profissional e faça administração do fator coagulante antes do procedimento, evitando grandes sangramentos, por exemplo.

Além disso, no caso da realização de tatuagens, algumas pessoas com hemofilia relataram que o processo de cicatrização e dores após o procedimento foram menores quando fizeram a aplicação do fator antes de realizar a tatuagem. É fundamental, também procurar um estabelecimento regularizado pela ANVISA, limpo e com materiais estéreis e limpos, evitando qualquer risco de complicação.

7. Quanto tempo pode viver uma pessoa com hemofilia?

Não há um período definido de expectativa de vida, já que a gravidade da doença varia de pessoa para pessoa e se há alguma outra doença associada. No entanto, é possível prolongar a expectativa de vida à medida que o tratamento é realizado de acordo com a orientação médica.