Mucormicose (fungo negro): o que é, sintomas e tratamento

Revisão clínica: Marcela Lemos
Biomédica
junho 2021
  1. Sintomas
  2. Tipos
  3. Tratamento
  4. Mucormicose e COVID-19

A mucormicose, conhecida popularmente como doença do fungo preto ou fungo negro, é uma doença infecciosa rara causada pelo fungo Rhizopus spp., que pode ser encontrado naturalmente no ambiente, principalmente em vegetações, solo, frutos e em produtos em decomposição, podendo levar ao aparecimento de sintomas após esporos desse fungo serem inalados.

Os sintomas de mucormicose são mais frequentes em pessoas que possuem o sistema imunológico mais comprometido, podendo ser notada dor de cabeça, febre, secreção nos olhos e no nariz vermelhidão no rosto e, nos casos mais graves em que o fungo atinge o cérebro, pode também haver convulsões e perda de consciência.

O diagnóstico da mucormicose é feito por um clínico geral ou infectologista através da tomografia computadorizada e cultura de fungos e o tratamento normalmente é feito com o uso de medicamentos antifúngicos injetáveis ou de via oral, como a Anfotericina B.

Imagem ilustrativa número 1

Sintomas de mucormicose

Os sintomas de infecção pelo fungo negro podem variar de acordo com o estado geral do sistema imunológico da pessoa e do órgão que foi atingido pelo fungo, isso porque o fungo após inalado pode ficar restrito ao nariz ou se deslocar para outros órgãos, como olhos, pulmões, pele e cérebro. De forma geral, os principais sinais e sintomas de mucormicose são:

  • Nariz entupido;
  • Dor nas maçãs do rosto;
  • Perda da cartilagem do nariz, nos casos mais graves;
  • Secreção nasal esverdeada;
  • Dificuldade para enxergar e inchaço nos olhos, quando há comprometimento ocular;
  • Tosse com catarro ou com sangue;
  • Dor no peito;
  • Dificuldade para respirar;
  • Convulsão;
  • Perda da consciência;
  • Dificuldade para falar.

Além disso, quando o fungo atinge a pele podem aparecer lesões avermelhadas, endurecidas, inchadas, dolorosas e que, em algumas situações, podem se tornar bolhas e formar feridas abertas e com aspecto preto.

Em casos mais avançados, a pessoa com mucormicose pode apresentar uma coloração azulada na pele e dedos arroxeados e isto ocorre devido à falta de oxigênio provocada pelo acúmulo de fungos nos pulmões. Além disso, caso a infecção não seja identificada e tratada, o fungo pode espalhar-se rapidamente para outros órgãos, principalmente se a pessoa possuir o sistema imunológico bastante comprometido, atingindo rins e coração e colocando a vida da pessoa em risco.

Quem tem mais risco

O fungo responsável pela mucormicose pode ser encontrado naturalmente no ambiente e consegue ser combatido facilmente pelo sistema imunológico. No entanto, quando há alterações no sistema imunológico há maior risco do desenvolvimento dos sinais e sintomas de infecção e, por isso, o Rhizopus spp., é considerado um fungo oportunista.

Assim, a mucormicose pode acontecer mais facilmente em pessoas com diabetes descompensada com cetoacidose, portadoras do HIV, que fazem uso de medicamentos imunossupressores ou que foram submetidos a transplantes, por exemplo. Além disso, existem relatos de casos de mucormicose em pacientes em tratamentos ou curados da COVID-19.

Mucormicose e COVID-19

A mucormicose é uma doença rara, mas que acontece mais facilmente em pessoas que possuem o sistema imunológico comprometido e, por isso, pode acontecer em pessoas com COVID-19.

Apesar de ser uma infecção rara associada à COVID-19, a mucormicose é bastante grave, isso porque além da pessoa já estar com a imunidade mais comprometida e direcionada para o combate ao SARS-CoV-2, há necessidade de internamento prolongado e uso de medicamentos que também podem interferir na ação do sistema imunológico e criar um ambiente mais favorável para o fungo.

Imagem ilustrativa número 3

Tipos de mucormicose

A mucormicose pode ser dividida em vários tipos de acordo com a localização da infecção pelos fungos, e podem ser:

  • Mucormicose rinocerebral, que é a forma mais comum da doença em que o fungo atinge o nariz, seios nasais, olhos e boca;
  • Mucormicose pulmonar, em que os fungos atingem os pulmões, sendo essa a segunda manifestação mais comum;
  • Mucormicose cutânea, que consiste na disseminação da infecção dos fungos em partes da pele, podendo atingir até os músculos;
  • Mucormicose gastrointestinal, em que o fungo atinge o trato gastrointestinal.

Também existe um tipo de mucormicose, chamada de disseminada, que é mais rara e acontece quando os fungos migram para vários órgãos do corpo, como coração, rins e cérebro.

Como é feito o diagnóstico

O diagnóstico de mucormicose é feito pelo clínico geral ou infectologista através da avaliação do histórico de saúde da pessoa e tomografia computadorizada, que serve para verificar a localização e extensão da infecção. Também é realizada a cultura de escarro, que baseia-se em analisar as secreções pulmonares para identificar o fungo relacionado com a infecção.

Em alguns casos, o médico pode ainda solicitar a realização de exame molecular, como a PCR, para identificar a espécie de fungo e, dependendo da técnica utilizada, a quantidade presente no organismo, e ressonância magnética para investigar se a mucormicose atingiu as estruturas do cérebro, por exemplo. Esses exames devem ser feitos o quanto antes, pois quanto mais rápido for feito o diagnóstico, mais chances existem de eliminar a infecção.

Tratamento da mucormicose

O tratamento para a infecção pelo fungo negro deve ser feito rapidamente, assim que a doença for diagnosticada, para que as chances de cura sejam maiores e deve ser feito de acordo com a recomendação do médico, podendo ser indicado o uso de antifúngicos diretamente na veia, como a Anfotericina B, ou o Posaconazol, por exemplo. É importante que os remédios sejam usados de acordo com a recomendação médica e que o tratamento seja continuado mesmo que não existam mais sintomas.

Além disso, dependendo da gravidade da infecção, o médico pode indicar a realização de uma cirurgia para remover o tecido necrosado causado pelo fungo, sendo esse procedimento chamado de desbridamento.

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Escrito por Marcela Lemos - Biomédica. Atualizado por Manuel Reis - Enfermeiro, em junho de 2021. Revisão clínica por Marcela Lemos - Biomédica, em junho de 2021.

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Revisão clínica:
Marcela Lemos
Biomédica
Mestre em Microbiologia Aplicada, com habilitação em Análises Clínicas e formada pela UFPE em 2017 com registro profissional no CRBM/ PE 08598.