Eletroforese de proteínas: para que serve, como é feita e resultados

Atualizado em fevereiro 2023

A eletroforese de proteínas é um exame que separa as proteínas do plasma do sangue em diferentes frações. Serve para investigar doenças que podem causar alteração na quantidade de proteínas circulantes no sangue, sendo um dos principais exames utilizados para diagnosticar o mieloma múltiplo.

As proteínas que são avaliadas nesse exame são importantes para o bom funcionamento do organismo, já que atuam no sistema imune, no processo de coagulação e reações metabólicas, além de poderem carregar algumas moléculas até o seu local de ação. Assim, alteração nas suas concentrações podem ser indicativas de doenças.

Dentre as frações de proteínas avaliadas no exame de eletroforese estão a albumina, alfa-glicoproteínas, beta-glicoproteínas e gama-glicoproteína. 

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Para que serve

A eletroforese de proteínas é solicitada pelo médico para verificar a quantidade de proteínas no organismo e, assim, investigar possíveis alterações e doenças, podendo iniciar o tratamento de forma precoce, caso seja esse o caso.

Quando é indicada

Algumas das situações em que o médico pode solicitar e eletroforese de proteínas é quando há sinais e sintomas sugestivos de:

  • Desidratação;
  • Mieloma múltiplo;
  • Inflamações;
  • Cirrose;
  • Lúpus Eritematoso Sistêmico;
  • Hipertensão;
  • Ascite;
  • Glomerulonefrite;
  • Síndrome de Cushing;
  • Enfisema;
  • Doenças hepáticas;
  • Anemia;
  • Pancreatite.

Além dessas situações, esse exame pode ser solicitado quando a pessoa realiza tratamento com estrogênio ou quando está grávida, pois nessas situações pode haver alteração nos níveis de proteína, sendo importante verificar a proteína alterada e adotar medidas e para reverter a situação.

Como é feito

A eletroforese de proteínas é feita a partir da coleta de uma amostra de sangue da pessoa por um profissional capacitado e não é necessário qualquer tipo de preparo. A amostra obtida é enviada ao laboratório para que seja devidamente processada e haja a separação dos glóbulos vermelhos e do plasma.

Em alguns casos, pode ser realizada a coleta de urina de 24 horas para verificar a quantidade de proteínas liberada na urina durante o dia, sendo esse exame mais solicitado pelo médico quando há suspeita de problemas renais.

No laboratório, o plasma é colocado em um gel de agarose ou acetato de celulose juntamente com um corante e o marcador de cada uma das proteínas. Em seguida, é aplicada uma corrente elétrica com o objetivo de estimular a separação das proteínas de acordo com o seu potencial elétrico, tamanho e peso molecular. Após a separação, as proteínas conseguem ser visualizadas por meio de um padrão de bandas, indicando a presença ou ausência das proteínas.

As proteínas são quantificadas em um aparelho específico, denominado densitômetro, em que é verificada a concentração das proteínas no sangue, sendo indicado no laudo o valor percentual e valor absoluto de cada fração proteica, além de um gráfico, que é importante para melhor compreensão pelo médico e pelo paciente do resultado do exame.

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Como entender o resultado

O resultado do exame de eletroforese de proteínas deve ser interpretado pelo médico, que avalia o valor absoluto e relativo das proteínas, além do gráfico que é liberado no laudo.

No resultado é indicada as frações de proteínas, ou seja, os valores encontrados de albumina, alfa-1-globulina, alfa-2-globulina, beta-1-globulina, beta-2-globulina e gama-globulina. Em relação ao padrão de bandas, normalmente não é liberado no laudo, ficando apenas no laboratório e disponível para o médico.

1. Albumina

A albumina é a proteína plasmática presente em maiores quantidades e é produzida no fígado, desempenhando várias funções, como transporte de hormônios, vitaminas e nutrientes, regulação do pH e controle osmótico do organismo. A síntese de albumina no fígado e dependente do estado nutricional da pessoa, quantidade de hormônios circulantes e pH do sangue. Dessa forma, o quantidade de albumina na eletroforese de proteínas demostra o estado nutricional geral da pessoa e permite identificar possíveis alterações no fígado ou nos rins. Conheça mais sobre a albumina.

Valor de referência na eletroforese (pode variar de acordo com o laboratório): 4,01 a 4,78 g/dL; 55,8 a 66,1%

Aumento da albumina: O aumento dos níveis de albumina acontecem principalmente como consequência da desidratação, mas não porque houve aumento da produção dessa proteína, mas porque a quantidade de água é menor e, consequentemente, o volume sanguíneo, sendo, portanto, verificados níveis mais altos de albumina.

Diminuição da albumina: A albumina é considerada uma proteína de fase aguda negativa, ou seja, em situações de inflamação, há diminuição dos níveis de albumina. Assim, a diminuição da albumina pode acontecer em casos de diabetes mellitus, hipertensão, edema, ascite, nas deficiências nutricionais e na cirrose, em que há comprometimento do fígado e a síntese de albumina torna-se prejudicada.

2. Alfa-1-globulina

A fração alfa-1-globulina é constituída por várias proteínas, sendo as principais a alfa-1-glicoproteína ácida (AGA) e a alfa-1-antitripsina (AAT). A AGA participa da formação de fibras colágenas e é responsável por inibir a atividade de vírus e parasitas, possuindo, portanto, papel fundamental no bom funcionamento do sistema imune. Da mesma forma que a AGA, a AAT também possui grande importância no sistema imunológico.

Valor de referência na eletroforese (pode variar de acordo com o laboratório): 0,22 a 0,41 g/dL; 2,9 a 4,9%

Aumento de alfa-1-globulina: O aumento das proteínas dessa fração acontecem principalmente diante de inflamações e infecções. Assim, níveis altos de alfa-1-globulina podem indicar neoplasias, síndrome de Cushing, artrites, gravidez e vasculites, além de poder aumentar como consequência da terapia com estrogênios ou corticoides.

Diminuição de alfa-1-globulina: A diminuição pode acontecer como consequência de síndrome nefrótica, doenças hepáticas graves, enfisema, cirrose e carcinoma hepatocelular.

3. Alfa-2-globulina

A fração alfa-2-globulina é formada por três proteínas principais: a ceruloplasmina (CER), a haptoglobina (hpt) e a macroglobulina (AMG), cujas concentrações podem aumentar em consequência de processos inflamatórios e infecciosos.

A ceruloplasmina é uma proteína sintetizada pelo fígado e que possui grande quantidade de cobre em sua composição, o que a permite realizar algumas reações no organismo. Além disso, a CER é importante no processo da incorporação do ferro a transferrina, que é a proteína responsável pelo transporte de ferro no organismo. Apesar de também ser considerada uma proteína de fase aguda, os níveis de CER demoram a subir.

A haptoglobina é responsável por se ligar à hemoglobina circulante e, assim, promover a sua degradação e eliminação da circulação. Já a macroglobulina é uma das maiores proteínas plasmáticas e é responsável por regular as reações inflamatórias e imunológicas, além de transportar proteínas mais simples, os peptídeos, e regular a síntese de proteínas plasmáticas pelo fígado.

Valor de referência na eletroforese (pode variar de acordo com o laboratório): 0,58 a 0,92 g/dL; 7,1 a 11,8%

Aumento de alfa-2-globulina: O aumento das proteínas dessa fração pode ser indicativo de síndrome nefrótica, doença de Wilson, degeneração hepática, coagulação intravascular disseminada e infarto cerebral, além de poder aumentar devido à terapia com estrogênios.

Diminuição de alfa-2-globulina: A diminuição dos níveis dessa proteína podem acontecer devido a anemias hemolíticas, pancreatite e doenças pulmonares.

4. Beta-1-globulina

A transferrina é a principal proteína da fração beta-1-globulina e é responsável pelo transporte do ferro para os vários locais do corpo. Além da sua quantidade poder ser verificada na eletroforese de proteínas, a concentração de transferrina no sangue pode ser verificada em um exame de sangue normal. Conheça o exame da transferrina.

Valor de referência na eletroforese (pode variar de acordo com o laboratório): 0,36 a 0,52 g/dL; 4,9 a 7,2%

Aumento de beta-1-globulina: O aumento acontece nos casos de anemia ferropriva, gravidez, icterícia, hipotireoidismo e diabetes.

Diminuição de beta-1-globulina: A diminuição dessa fração de proteínas não é muito frequente, no entanto pode ser observada em processos crônicos.

5. Beta-2-globulina

Nessa fração há duas proteínas principais, a beta-2-microglobulina (BMG) e a proteína C reativa (PCR). A BMG é um marcador de atividade celular, sendo importante para detectar tumores linfocitários, por exemplo, além de poder ser utilizada na prática clínica com o objetivo de acompanhar o paciente com câncer, de modo a verificar se o tratamento está sendo eficaz. A PCR é uma proteína muito importante na identificação de infecções e inflamações, já que é a que mais sofre alteração em seus níveis.

Valor de referência na eletroforese (pode variar de acordo com o laboratório): 0,22 a 0,45 g/dL; 3,1 a 6,1%

Aumento de beta-2-globulina: O aumento pode acontecer no caso de doenças relacionadas com os linfócitos, inflamações e infecções.

Diminuição de beta-2-globulina: A diminuição pode ser devido à problemas no fígado, o que impede a síntese dessas proteínas.

6. Gama-globulina

Nessa fração da eletroforese de proteínas são encontrados as imunoglobulinas, que são as proteínas responsáveis pela defesa do organismo. Entenda como funciona o sistema imune.

Valor de referência na eletroforese (pode variar de acordo com o laboratório): 0,72 a 1,27 g/dL; 11,1 a 18,8%

Aumento de gama-globulina: O aumento das proteínas da fração de gama-globulinas acontecem frente a infecções, inflamações e doenças autoimunes, como artrite reumatoide. Além disso, pode haver aumento em caso de linfoma, cirrose e mieloma múltiplo.

Diminuição de gama-globulina: A diminuição da gama-globulina pode ser causada pela síndrome nefrótica, alterações gastrointestinais que interferem na absorção de nutrientes, câncer no sangue ou uso de medicamentos imunossupressores, corticoides ou quimioterápicos, além de também poder ser congênito.