Heparina: para que serve, como usar e efeitos colaterais

Revisão clínica: Flávia Costa
Farmacêutica
julho 2021

A heparina é um anticoagulante de uso injetável, indicado para diminuir a capacidade de coagulação do sangue e ajudar no tratamento e prevenção da formação de coágulos que podem obstruir os vasos sanguíneos e causar coagulação intravascular disseminada, trombose venosa profunda ou derrame cerebral, por exemplo.

Existem dois tipos de heparina, a heparina não fracionada que pode ser usada diretamente na veia ou em injeção subcutânea, e administrada por um enfermeiro ou médico, sendo seu uso exclusivamente hospitalar, e a heparina de baixo peso molecular, como a enoxaparina ou dalteparina, por exemplo, que possui maior tempo de ação e menos efeitos colaterais do que a heparina não fracionada e pode se utilizada em casa.

Essas heparinas devem ser sempre indicadas por um médico como cardiologista, hematologista ou clínico geral, por exemplo, e deve ser feito acompanhamento regular para avaliar a eficácia do tratamento ou o aparecimento de efeitos colaterais.

Imagem ilustrativa número 1

Para que serve

A heparina é indicada para a prevenção e o tratamento de coágulos relacionada a algumas condições, que incluem:

  • Trombose venosa profunda;
  • Coagulação intravascular disseminada;
  • Embolia pulmonar;
  • Embolia arterial;
  • Infarto;
  • Fibrilação atrial;
  • Cateterismo cardíaco;
  • Hemodiálise;
  • Cirurgias cardíacas ou ortopédicas;
  • Transfusão sanguínea;
  • Circulação sanguínea extracorpórea.

Além disso, a heparina pode ser usada na prevenção da formação de coágulos em pessoas acamadas, pois por não se movimentarem, têm maior risco de desenvolver coágulos sanguíneos e trombose.

Qual a relação entre o uso de heparina e a COVID-19?

A heparina, embora não contribua para eliminar o novo coronavírus do organismo, tem sido usada, em casos moderados ou graves, para prevenir as complicações tromboembólicas que podem surgir com a doença COVID-19 como coagulação intravascular disseminada, embolia pulmonar ou trombose venosa profunda.

De acordo com um estudo feito na Itália [1], o coronavírus pode ativar a coagulação sanguínea levando a um aumento grave da coagulação do sangue e, portanto, a profilaxia com o uso de anticoagulantes como a heparina não fracionada ou a heparina de baixo peso molecular pode reduzir a coagulopatia, a formação de microtrombos, e o risco de danos aos órgãos, sendo que sua dose deve ser baseada no risco individual de coagulopatia e trombose.

Outro estudo realizado in vitro mostrou que a heparina de baixo peso molecular apresentou propriedades antivirais e imunomoduladoras contra o coronavírus, mas nenhuma evidência in vivo está disponível, sendo necessários ensaios clínicos em humanos, para verificar a sua eficácia in vivo, assim como a dose terapêutica e segurança do medicamento [2].

Além disso, a Organização mundial de Saúde, no Guia para Manejo Clínico da COVID-19 [3], indica o uso da heparina de baixo peso molecular, como a enoxaparina, para profilaxia do tromboembolismo venoso em pacientes adultos e adolescentes hospitalizados com a COVID-19, de acordo com os padrões locais e internacionais, exceto quando o paciente tenha alguma contra-indicação para seu uso.

Como usar

A heparina deve ser administrada por um profissional de saúde, por via subcutânea (debaixo da pele) ou por via intravenosa (na veia) e as doses devem ser indicadas pelo médico tendo em consideração o peso da pessoa e a gravidade da doença.

De forma geral, as doses utilizadas nos hospitais são:

  • Injeção na veia de forma contínua: a dose inicial de 5000 unidades, podendo chegar a 20.000 a 40.000 unidades aplicadas durante 24 horas, conforme avaliação médica;
  • Injeção na veia a cada 4 a 6 horas: a dose inicial é de 10.000 unidades e depois pode variar de 5.000 a 10.000 unidades;
  • Injeção subcutânea: a dose inicial é de 333 unidades por Kg de peso corporal, seguida de 250 unidades por kg a cada 12 horas.

Durante o uso da heparina, o médico deve monitorar a coagulação sanguínea através de exames de sangue e ajustar a dose da heparina de acordo com a sua eficácia ou o aparecimento de efeitos colaterais.

Possíveis efeitos colaterais

Alguns dos efeitos colaterais mais comuns que podem ocorrer durante o tratamento com heparina são sangramentos ou hemorragias, podendo-se verificar a presença de sangue na urina, fezes escuras com aspecto de borra de café, surgimento de hematomas, dor no peito, virilha ou pernas, especialmente na panturrilha, dificuldade respiratória ou sangramento nas gengivas.

Como o uso da heparina é feito em hospitais e o médico monitora a coagulação sanguínea e a eficácia da heparina, ao aparecer algum efeito colateral, o tratamento é imediato.

Quem não deve usar

A heparina é contra-indicada em pessoas com hipersensibilidade à heparina e aos componentes da fórmula e não deve ser usada por pessoas com trombocitopenia severa, endocardite bacteriana, com suspeita de hemorragia cerebral ou algum outro tipo de hemorragia, hemofilia, retinopatia ou em situações em que não haja condições para a realização de testes de coagulação adequados.

Além disso, também não deve ser usada nas diástases hemorrágicas, cirurgias de medula espinhal, em situações em que o aborto é iminente, doenças graves da coagulação, na insuficiência hepática e renal grave, em presença de tumores malignos do aparelho digestivo e algumas púrpuras vasculares.

A heparina não deve ser utilizada por mulheres grávidas ou em amamentação sem orientação médica.

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Escrito, atualizado e revisto clinicamente por Flávia Costa - Farmacêutica, em julho de 2021.

Bibliografia

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Mostrar bibliografia completa
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Revisão clínica:
Flávia Costa
Farmacêutica
Formada em Farmácia pelo Centro Universitário Newton Paiva em 2003. Mestre em Ciências Biomédicas pela UBI, Portugal.