Sintomas de depressão na gravidez e como é o tratamento

Revisão médica: Drª. Sheila Sedicias
Ginecologista
dezembro 2020

A depressão na gravidez é caracterizada por variações de humor, ansiedade e tristeza, que pode resultar em desinteresse pela gravidez e trazer consequências para o bebê. Essa situação pode acontecer devido às variações hormonais comuns de acontecer durante a gestação ou ser resultante do medo de ser mãe pela primeira vez, por exemplo. As adolescentes são as que tem maiores chances de sofrer com a depressão durante a gravidez, especialmente se já teve crise de ansiedade ou depressão anteriormente.

O diagnóstico da depressão na gravidez é feito pelo médico a partir da observação dos sinais e sintomas apresentados pela mulher. A partir do momento que é feito o diagnóstico, é possível iniciar o tratamento que muitas vezes é feito por meio de psicoterapia.

Imagem ilustrativa número 1

A depressão pode afetar o bebê?

A depressão na gravidez, quando não identificada e tratada, pode ter consequências para o bebê. Isso porque as mães deprimidas apresentam maiores alterações hormonais, menos cuidado com a alimentação e com a saúde, além de interagirem pouco com o bebê em formação, o que prejudica o desenvolvimento fetal e aumenta as chances de parto prematuro e bebê com baixo peso.

Além disso, as mulheres com depressão no último trimestre de gestação tem maior necessidade de epidural, parto com fórceps e os recém-nascidos tem mais necessidade de internamento na neonatologia.

Foi verificado também, em um estudo realizado pelo Instituto de Psiquiatria e Neurociência de uma Universidade em Londres, que os bebês de mulheres que tiveram depressão durante a gestação apresentavam maiores níveis de cortisol circulantes, que é o hormônio relacionado ao estresse, e que eram mais hiperativos e reativos ao som, luz e frio do que os bebês de mulheres que não apresentaram qualquer alteração psicológica na gravidez.

Sintomas da depressão na gravidez

As variações de humor durante a gravidez são normais, pois resultam das alterações dos níveis hormonais que a mulher sofre nesta fase. Porém, se estas variações se mantiverem por semanas ou meses, a mulher deve conversar com seu obstetra para avaliar a situação e verificar se pode estar com depressão.

Para caracterizar a depressão, é preciso apresentar ao menos 5 dos seguintes sintomas: 

  • Tristeza na maior parte dos dias;
  • Ansiedade;
  • Crises de choro;
  • Perda de interesse pela atividades diárias;
  • Irritabilidade;
  • Agitação ou lentidão quase todos os dias; 
  • Fadiga ou perda de energia todos os dias, ou na maior parte do tempo; 
  • Distúrbios do sono como insônia ou sonolência exagerada, praticamente todos os dias; 
  • Excesso ou falta de apetite;
  • Falta de concentração e indecisão praticamente todos os dias; 
  • Sentimentos de culpa ou de desvalorização a maior parte do tempo; 
  • Pensamentos de morte ou suicídio, com ou sem tentativa de suicídio. 

Muitas vezes, a depressão na gravidez leva a afastamento do trabalho, pois a mulher não consegue fazer as atividades diárias e cansa-se facilmente. Os sintomas surgem, normalmente, no primeiro ou no último trimestre gestacional e no primeiro mês depois do nascimento do bebê.

Como é o tratamento

O tratamento para a depressão durante a gravidez varia de acordo com a quantidade de sintomas apresentados e presença ou ausência de sinais de gravidade. Assim, quando a mulher apresenta entre 5 e 6 sintomas, o tratamento recomendado é a psicoterapia, que melhora a qualidade de vida e aumenta a autoconfiança das mulheres. Terapias alternativas, como acupuntura, também estão indicadas para tratar depressão. A atividade física, a alimentação saudável e o apoio familiar são outras formas indispensáveis de tratar a depressão na gravidez.

No caso da mulher apresentar entre 7 e 9 sintomas, é recomendado o uso de medicamentos, no entanto não existe um medicamento antidepressivo que seja indicado para as gestantes e que seja totalmente seguro. Por isso, antes de iniciar a medicação, o médico precisa avaliar qual o risco e o benefício que podem ser proporcionados pela medicação. Além disso, não é aconselhado tomar remédios naturais porque podem prejudicar o bebê, inclusive a erva-de-são-joão, normalmente usado contra depressão, é contraindicada nessa fase. 

Apesar do obstetra acompanhar toda gestação o médico psiquiatra não é dispensável, sendo o médico mais indicado para acompanhar a mulher também durante a gravidez.

Quando usar antidepressivo

O uso de antidepressivo só é recomendado pelo médico após as 12 primeiras semanas de gravidez e quando a mulher apresenta 7 a 9 sintomas de depressão, no entanto o uso desse medicamento só deve ser feito se for verificado que não há riscos para o bebê. Isso porque alguns antidepressivos podem resultar em malformação no feto, aumentar o risco de parto prematuro e dificultar o crescimento normal do bebê.

Assim, para diminuir o risco de alterações provocadas pelo uso de antidepressivo, é normalmente recomendado que mulheres que nunca fizeram uso desse tipo de medicação, faça uso de antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da serotonina, como a sertralina, fluoxetina ou citalopram, já que são considerados mais seguros durante esse período.

Apesar de serem considerados seguros, alguns estudos indicam que o uso desses antidepressivos no último trimestre de gravidez pode resultar em algumas alterações neonatais como agitação, irritabilidade, alterações na alimentação e no sono, hipoglicemia e desconforto respiratório, por exemplo, no entanto é relatado que essas alterações duram poucas semanas e não têm impacto no desenvolvimento a longo prazo do bebê.

O que pode causar

Situações como falta de apoio emocional, de conforto, carinho, e assistência podem desencadear a depressão na mulher durante a gravidez. Outros fatores que também contribuem para o desenvolvimento da depressão nessa fase da vida são:

  • A mulher já ter tido depressão antes de engravidar ou qualquer outro transtorno psiquiátrico como crises de ansiedade, por exemplo;
  • Gravidez anterior complicada, caso anterior de aborto ou de perda de um filho;
  • Não estar casada, não ter segurança financeira, estar separada ou não ter planejado a gravidez.

Problemas estressantes como brigas com o companheiro, história de separação ou divórcio, problemas de saúde grave, sequestro, história de incêndio ou catástrofe, morte de pessoa próxima, assalto, abuso sexual, agressão física são fatores que também podem desencadear a depressão, mas ela também pode se desenvolver em pessoas que não tiveram expostas a estas situações. 

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Escrito por Marcelle Pinheiro - Fisioterapeuta. Atualizado por Marcela Lemos - Biomédica, em dezembro de 2020. Revisão médica por Drª. Sheila Sedicias - Ginecologista, em fevereiro de 2016.

Bibliografia

  • SOUZA, Carlos Alberto C.; CECHINEI, Kelen C. Antidepressivos na ginecologia e obstetrícia. Psychiatry online Brasil. Vol 18. 3 ed; 2013
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  • Canadian Paediatric Society. Depression in pregnant women and mothers: How children are affected. Paediatr Child Health. Vol 9. 8 ed; 584-601, 2004
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  • OSBORNE, S. et al. Antenatal depression programs cortisol stress reactivity in offspring through increased maternal inflammation and cortisol in pregnancy: The Psychiatry Research and Motherhood – Depression (PRAM-D) Study. Psychoneuroendocrinology. Vol 98. 211-221, 2018
Revisão médica:
Drª. Sheila Sedicias
Ginecologista
Médica mastologista e ginecologista formada pela Universidade Federal de Pernambuco, em 2008 com registro profissional no CRM PE 17459.